Aqueles olhinhos pareciam duas bolitas negras que estavam gastas com tempo.
Tentei me aproximar, mas a resposta que tive foi uma corrida desesperada de
horror. Naquele instante já imagina ser a consequência de uma dura vida.
Então decidi me aproximar aos poucos. Levei uma tigelinha de água e outra de
comida por dias... E bem lentamente ia ganhando a confiança daquele amigo que
me faria de confidente.
Naquela manhã de primavera fazia um leve friozinho, mas recebia de presente
a branda luz do sol com perfume das belas e coloridas flores. Foi nesse dia que
finalmente consegui, pela primeira vez, manifestar o meu carinho por aquele
vira-lata pulguento e sarnoso. Pude encostar uma das mãos na sua cabeça e em
seguida ele estava de barriguinha pra cima, me pedindo mais carinho, todo
confiante. Não esperei ao menos um segundo para corresponder aquele pedido
dengoso. E assim conquistei a amizade mais fiel que já pude ter.
E o cão me seguiu para casa e a minha casa se tornou um lar. Comida, água,
carinho, amor, respeito e cuidados que aquele ancião canino merecia, estavam à
disposição.
E aqueles olhinhos que pareciam duas bolitas negras voltaram a brilhar.
Porém naquele brilho eu ainda conseguia enxergar a sequelas de momentos foscos
que outra foram vividos. Ahhhh como eu queria entender o que passava com aquele
cusco... Eu ficava vigiando seu modo de deitar com as patinhas perto do rosto e
tentava ler através aquele olhar o motivo de tanta tristeza... E logo que o cão
me pegava com esses pensamentos, ele se aprochegava como quem dizia: "não
se preocupe, agora estou bem". Mas mesmo assim, continuava carregando
comigo a preocupação e certa curiosidade em conhecer aquela história de vida...
Parecia que aquele cão me conhecia desde a infância, tudo que eu matutava ele
respondia com um carinhoso gesto, mas eu não apresentava mudanças... Eu queria
saber...
Foi então que um dia meu netinho veio me visitar. O cão já era tão velho
quanto eu e não tinha disposição para jogar bola com o guri. Mas eu senti que
naquele dia o cão ia me confidenciar suas lembranças da tenra idade.
O cão se levantou, procurando mostrar toda a energia que lhe restava e foi
para perto do guri que corria, pulava, gritava... Então ele começou a abanar o
rabinho e a latir, até que conseguiu a atenção do piá. Ele não conseguiu dar
uma volta inteira correndo, mas durante toda manhã foi um ótimo companheiro: virou um
super-herói naquele dia. Meu neto, com uma toalha presa no pescoço era um forte
e honroso homem que defendia as pessoas e salvava o planeta, ao lado o melhor
amigo: o super cão, que tinha o poder de falar com pessoas e defender os
animais de todo perigo.
A brincadeira durou horas, até que a manhã se foi... Chegou a tarde e o cão
foi para ao lado do meu filho. Repitiu o mesmo processo que fez com o netinho:
abanava o rabinho e latia para chamar a atenção, mas desta vez não funcionou
muito bem, o máximo que conseguiu foi o resto dos ossos que haviam sobrado do
churrasco. O cão se mostrou leal e não desistiu de chamar a atenção do meu
filho, que sem paciência deu uns gritos com o pobrezinho. Mesmo assim, o
cachorro insistiu em ficar ao seu redor, o acompanhava para cima e para baixo,
o que foi tirando ainda mais a paciência daquele homem que acabou por dar-lhe
um pontapé. O cachorro se deitou quieto e qualquer coisa que fazia era
reprimido. Não podia andar livremente, não podia andar, estava abandonado, sem
ter alguma atenção.
E assim foi vindo o anoitecer e a hora da despedida chegou. O guri correu
pro lado do cachorro e o abraçou como quem agradecia pela gostosa brincadeira.
Já do meu filho, o cão teve que se chegar, e levou outra ralhada. Pai e filho
entraram no carro e o cão os seguiu. O cachorro olhou tristemente para as
portas que se fechavam e aguardou a partida, quando o carro tomou velocidade, o
cusco começou a correr, correr, correr... Como que se desejasse alcançá-los e
foi aí que eu pude perceber a vida daquele cusco que tinha olhos como bolitas
negras...
Ele foi o verdadeiro companheiro, amigo fiel de infância duma criança que
pode crescer feliz com sua companhia, até que chegou o dia que a família queria
partir, mas o cão era um estorvo, assim o chefe de família, aquele homem que
deveria dar o exemplo de bondade e dignidade tomou a parva decisão: colocou o
cão dentro do carro, o levou para bem longe e o abandonou...
O cão leal tentou alcançá-los, mas nunca conseguiu... Ficou sem lar, sem ter
como sobreviver, sofreu violência de toda sorte até que aprendeu a se
amedrontar daqueles que considerava como melhor amigo...
O cão parou de correr atrás do carro e voltou para mim, no seu olhar
carregava a explicação de tudo... Ele pôs a se sentar ao meu lado e vimos as
estrelas aparecerem naquela noite. Minhas lágrimas rolavam e cão me consolava
como se dissesse "agora estou bem, não se preocupe". Embora meu ser
estivesse dotado de uma tristeza profunda por conhecer a realidade daquela
vida, me sentia infinitamente agradecido, pois em um dia eu aprendi uma lição
que valia pela vida inteira, mas que até então, na beira da minha
velhice, nenhum homem tinha me ensinado, mas que tive a oportunidade de
aprender com um simples vira-lata que era cheio de pulgas, sujo, fedido e
sarnento.
Mal pude dormir de emoção naquela noite, mas a escuridão e o silêncio
ajudaram a acalmar a agitação que se passava em mim. O cão estava deitado
comigo, com a cabeça na minha barriga e com os olhos voltados para mim, me
observando, e assim foi meu vigia até finalmente pregar os olhos.
Quando consegui adormecer, o cão voltou para sua cama que ficava perto do fogão
a lenha. Pelo menos era o que eu pensara até notar o seu sumiço... Procurei o
cão campo a fora, até encontrá-lo com o corpinho gelado e sem movimento ao lado
do local onde eu começara a lhe dar água e comida.
E mais uma vez levei uma lição do meu amigo de quatro patas: são nos
pequenos e simbólicos gestos que a gente mostra a gratidão.
E por mais que eu quisesse continuar a contar as peripécias daquele cusco e
tudo que aprendi com ele, não conseguiria, pois as lágrimas das lembranças não
permitem expressar tão grandiosos sentimentos.
Esta é uma história fictícia criada por Daiélli Raymundo, que pode ser divulgada a vontade, desde que a fonte seja citada.
AMIGO NÃO SE COMPRA. ADOTE UM CÃO.
ADOTAR É UMA RESPONSABILIDADE. A VIDA DO ANIMAL VALE TANTO QUANTO A NOSSA. NÃO ABANDONE SEUS AMIGUINHOS DE QUATRO PATAS.
Esta é a Dolly (ou Lu, como preferirem), ela foi doada para meu irmão por um vizinho, quando éramos pequenos. Ela se apegou a mim e eu a ela. Foi minha melhor amiga de infância e faleceu com câncer. Tive a companhia dela até o início do Curso Normal (Ensino Médio). Infelizmente, ela ficava aos cuidados da minha avó que arbitrariamente se adonou dela e que infelizmente não nos ouvia quando falávamos sobre a alimentação errada...
Essa cadelinha fofa será a minha mais nova amiga. Após muitos anos sem ter um animalzinho por perto, tomei a decisão de assumir a responsabilidade com a adoção dela. Embora seja a primeira vez que eu cuidarei pessoalmente de uma cadelinha, quero que a minha casa seja um verdadeiro lar, repleto de amor, carinho, respeito e cuidados. Seja bem-vinda!!!
Conheça o Projeto Quatro Patas e a ONG Peludinhos de Rua
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